Música

http://www.blogger.com/add-widget?widget.title=Megadeth Radio&widget.content=%3cscript type%3d%22text%2fjavascript%22 src%3d%22http%3a%2f%2fwidgets.clearspring.com%2fo%2f4adc6e9803694c34%2f4b33ce080a7736c8%2f4adc6e98366e230e%2f41409611%2fwidget.js%22%3e%3c%2fscript%3e

Pages

1 de novembro de 2008

Volta ao passado #3 (parte1) - o texto perdido

Nas últimas edições desse meu trabalho de resgate de textos antigos meus me restringi a cavocar a gaveta para acha-los, irei um pouco mais longe agora. Apesar do meu ego relativamente grande são poucos os textos que realmente me orgulham.

Tinha um que eu gostava muito em especial, mas ele se perdeu na minha recente mudança, joguei-o fora junto com os papéis velhos. Uma de minhas obras primas descartada como uma prova de química ordinária. Deixando a tristeza de lado, vamos a proposta.

O texto em questão foi escrito em 2004 quando eu tinha 14 anos. Tentarei, dentro do limite que minha memória permitir, reconstrui-lo para vocês e, principalmente, para mim. Vamos lá!


"O homem que morreu mais de uma vez"


Tomava seu café na mesa um homem já em seus quarenta anos, ele folheava o jornal. Atenta uma mulher servia o seu café com um triste sorriso e senta à mesa encarando-o, era óbivo que esperava algo, só não se sabia o que.

João era seu nome e, pra variar, uma olhada no relógio revela que estava atrasado para o trabalho. Levantou bruscamente da mesa, largou o jornal dobrando-o de qualquer forma acenou para a esposa e caiu no chão da cozinha, morria um marido amado.

João não tinha tempo para chorar pelo pobre marido, ou sua viúva, ou sequer tentar socorre-lo, precisava ir para o trabalho. Ás passos atrasados ele chega no ponto a tempo de pegar o ônibus que por sorte atrasou como ele, o próximo viria muito mais tarde.

Entrou então no ônibus, pagou ao cobrador e tratou de procurar um lugar á janela, obteve êxito. Olhando para fora começou a sonhar sobre o futuro, sobre o passado, sobre a vida que levava tão corrida. "Sempre foi assim? O que foi que aconteceu" - ele perguntava.

Relembrou os tempos de infância quando corria de uma lado para o outro fingindo ser um super-herói. Simulava combates com os coleguinhas, sua vizinha mais novinha era obrigada a ser a vítima sequestrada, um pouco tirano de sua parte, mas nunca se divertiu tanto desde então.

O tempo passou e ele adolesceu, evoluiu seus conceitos e suas escolhas. Via um novo modo de salvar o mundo, de proteger vidas diariamente: queria ser chefe das operações especias. Seus pais porém derrubaram todo o glamour dos filmes dizendo do quanto era importante a conquista financeira.

Antes de alçar grandes cargos na polícia haveria de passar maus vocados, acabou abdicando da carreira dos sonhso por isso e se tornou advogado. Algum tempo depois se casou com sua vítima favorita que nunca deixou de ve-lo como verdadeiramente era: um herói.

Não tinha tempo de pensar nessas besteiras, era hora de rever os casos da empresa. Tinha de ser produtivo, não havia tempo para devaneios mesmo no ônibus. No balançar do ônibus cai o corpo de um homem cheio de sonhos e metas.

João não tem tempo de lamentar a ironia do fim tão breve de alguém que sempre enxergou a frente, chegou o seu ponto e ele precisava pular. Correu para o seu prédio, pegou o elevador lotado e entrou em sua sala antes que seu chefe o visse.

O plano não deu certo. Escancarando a porta entra um homem careca bufante falando palávras que é melhor não pronunciar aqui. Muito se falavar sobre prazos encurtados e a quantidade processos, João sabia que não era culpa dele mas abaixou a cabeça e concordou com tudo.

Tão rápido quanto entrou o escandaloso homenzinho careca deixou a sala batendo a porta. O barulho só foi superado pelo baque de um corpo que caia no chão. Era um homem de orgulho e convicções de fortes, mas não cabe aqui lamentar pelo falecido.

João afasta o corpo para que possa ajeitar a cadeira de rodinha e começar a rever os malditos processos, ia ser um dia looongo. As horas se arrastaram enquanto ele fazia a tarefa quase mecânica de carimbar os processos e colocar na pilha dos lidos.

Já estourado de horas extras é obrigado então a voltar para casa no horário convencional e pegar aquele trânsito delicioso. Embalado no ônibus mal sente as pontadas de guarda-chuvas de maletas de escritória, estava estranhamente leve.

Exorcisado da lata de sardinhas João da os últimos passos na direção de casa. Entra na sala, coloca o casaco no gancho, tira os sapatos e grita pelo nome da mulher avisando de sua chegada. Ninguém responde. Estranhando o silêncio ele se dirige para a cozinha lentamente.

A luz estava acessa mas nenhuma voz ou som saia de lá, havia algo de errado. Ao pisar na cozinha ele sente a sua meia ficar úmida. Olhando para baixo percebe-se uma poça de sangue formada ao redor do corpo de uma mulher com os pulsos cortados.

Na mesa havia um bilhete que agora ele lia trêmulo, no mesmo se dizia "não sei viver sem ter você, adeus". Após a leitura o corpo de João caia, desta vez difinitivamente. Morria ali no chão da cozinha desfeito do último pingo de vida, sem qualquer motivo para querer viver.

1 comentários:

M.M. disse...

nossa, que surreal!!
brilhante!!